10.6.10

Sobre a Copa

"Nunca esqueci de onde eu vim. Temos que lutar contra a fome" (Didier Drogba)

Esta frase do Drogba, principal jogador da Costa do Marfim (país africano), pra mim sintetiza aquilo que deveria ser o nosso sentimento em relação à Copa do Mundo. Assim como Drogba, já vi alguns esportistas de sucesso demonstrarem algum interesse por causas sociais em seus países. Puxando pela minha fraca memória, lembro-me de Claudinei Quirino nas olimpíadas de Sidney em 2000 que, ao ganhar uma difícil medalha de prata no atletismo, falou das desigualdades sociais no Brasil logo na entrevista que seguiu sua conquista. Popó foi outro que, ao ganhar uma luta importante (realmente não lembro quando), logo a seguir fez o singelo pedido aos governantes (coitado) para melhorarem a educação e a saúde do país.
Não é muito inspirador observar que no Brasil o auge do nosso patriotismo seja na Copa do Mundo. Em qualquer situação diferente da Copa é totalmente estranho à nossa mentalidade uma demonstração de amor ao país. É como se não tivéssemos do que nos orgulhar devido aos problemas que temos. Penso que a nossa melhor chance de desenvolver patriotismo em outras áreas é aproveitar a "deixa" da Copa.
É nessa hora que esse patriotismo deve ser explorado. Um país inteiro volta seus olhos para um time de futebol. Uma pena que até agora nenhum deles teve o bom senso de chamar atenção da mesma forma como fez o Drogba ou outros atletas em momentos como este.
Digo isso pois tenho observado três grupos de pessoas nesse período da Copa. Um - que constitui a maioria - realmente adora a Copa do Mundo, e quer que o Brasil ganhe, e queria o Ronaldinho ou o Ganso ou alguém mais, e gosta do Dunga, e... enfim, está ligado no Mundial, quer que o Brasil ganhe. O segundo, que é constituído por pouquíssimas pessoas até onde eu sei, é de pessoas que não gostam de futebol e são indiferentes ao torneio e à seleção brasileira. O terceiro é o que eu acho mais estranho, são os que torcem contra o Brasil. Os motivos são vários: corrupção na CBF, problemas sociopolíticos do país, insatisfação com o treinador, etc. Eu acho isso estranho. Quem sabe até - no caso de alguns - alguma necessidade de se autoafirmar como sendo uma pessoa "diferente", que tem sua "opinião própria". Não sei, isso é meio que um "chute" (sem trocadilho).
Bom, Copa do Mundo é bem mais que futebol. O esporte em geral sempre foi - desde os primórdios - uma alternativa saudável de se expressar um instinto natural que o ser humano tem de competitividade. Com isso, aprendemos valores, respeito, disciplina, etc. Na Grécia antiga, houve guerras que pararam durante jogos olímpicos. Neste caso, o esporte aparece como uma alternativa de, digamos, "confraternização" entre os países. É o momento em que adversários ferrenhos fora do campo, ainda que joguem entre si, demonstrem que ainda pode haver honra e respeito, mesmo entre adversários. Como no jogo EUA x Irã, em 1998. Teve até troca de presentes no jogo.
Uma pena que a maioria dos brasileiros olhem apenas para o futebol. Na Argentina por exemplo (é, na Argentina, vejam só!), eu fico maravilhado de ver como o país inteiro vê na seleção o reflexo do povo, e os próprios jogadores parece que tem consciência disso, eles entram em campo para, literalmente, representar uma nação. Um exemplo perfeito, a meu ver, é o jogo Argentina x Inglaterra, em 1986. Este jogo foi posterior à guerra das Malvinas, a qual deixou a Argentina arrasada. Ali, tudo o que eles tinham era o futebol. E o mais legal disso é que os próprios jogadores encarnaram esse espírito na partida. Vai dizer que é só um jogo?
De fato a seleção brasileira há tempos não tem o antigo reflexo do país. No seu estilo de jogo, outrora alegre e fluído, vemos mais rigidez e disciplina. Interessante, pois isso HOJE é um poquinho mais a cara do Brasil, com suas deficiências que passam mais pelo campo da vontade que do potencial. No futebol e mesmo como país, podemos ser os melhores do mundo sim: potencial nós temos - e muito - o que nos falta mais é a vontade.
É hora de torcer pelo futebol. Hora também de cobrar um país novo e melhor: sejamos fortes também fora de campo!
Segue abaixo o novo vídeo da Nike, totalmente excelente! Escreva o futuro!