O mais legal desse ano foi o número de BONS filmes concorrendo juntos. E foi bem interessante o simbolismo da disputa entre Guerra ao Terror e Avatar. Não, o simbolismo não tem nada a ver com o fato de Kathryn Bigelow ser ex-esposa de James Cameron. Na verdade, foi uma disputa entre um filme milhonário e um filme "alternativo". Enquanto Avatar é um filme essencialmente tecnológico, inovador e com um forte apelo de marketing, Guerra ao Terror, com aproximadamente 490 milhões de dólares a menos de investimento, é bem simples, com um estilo meio "documentário", com aquela "tremida" de câmera quando há uma corrida. Infelizmente, o meu preferido de todos, Bastardos Inglórios, nem foi lembrado.
Por quê Guerra ao Terror e não Avatar
Apesar dos dez anos de trabalho, Avatar decepcionou muito no roteiro. Não que seja absolutamente fraco. Até que o filme passa uma mensagem legal. O ruim é o velho clichê. Avatar me lembra muito O Último Samurai, onde o sujeito vai ao lugar pra subjugar os nativos e acaba gostando da cultura do inimigo e, consequentemente, passando para o lado deles. Mostra os nativos como os bonzinhos e os humanos como os malvadinhos. No fim ele ganha a guerra pelo lado dos bonzinhos e passa a viver com eles. Junto com isso, alguns elementos simbólicos que podemos ver em muitas mitologias e uma oportuna mensagem ecológica e moral. A grande atração é a parte visual. É um filme pra ser visto e não entendido, uma vez que não exige muita interpretação. Já não é mais o tipo de filme preferido da Academia, porém é de um sucesso financeiro absurdamente grande, o que talvez sirva de consolo (e que consolo! aproximadamente 2 BILHÕES de dólares até o presente momento) ao diretor, James Cameron.Guerra ao Terror é o oposto de Avatar em muitos sentidos. A começar pela dificuldade em arranjar patrocínio (não conseguiram nenhum nos EUA, somente na França). Guerra ao Terror ganhou notoriedade pelo seu sucesso de crítica e os diversos prêmios antes do Oscar. Já havia levado 16 contra míseros 9 de Avatar. Tudo bem, não precisava ser especialista pra saber que Guerra ao Terror levava vantagem sobre Avatar. A grande questão seria...
E Bastardos Inglórios?
"Acho que essa é minha obra-prima". É com esta frase que Quentin Tarantino encerra o filme, como que falando através do Aldo Raine sobre o seu próprio filme. Bastardos Inglórios dispensa comentários para qualquer pessoa que tenha visto o filme. Causa uma sensação incrível quando o filme termina de "UAU! O que foi isso?". Tenho certeza de que foi o grande injustiçado do Oscar.Primeiro, é um filme de Quentin Tarantino. Na verdade, é "o" filme de Quentin Tarantino. Segundo, é um filme cujo trabalho de TODO o elenco é incrível, a começar pelo Sr. Christoph Waltz, que fala quatro idiomas no filme (se ele não levasse o Oscar seria mais sacanagem ainda). Bastardos Inglórios é o filme do ano, independente de qualquer premiação. Ele é inovador no roteiro, apesar de manter umas características marcantes ao longo da obra de Tarantino. Características essas que ele explora a níveis extremos neste filme especificamente, num ritmo progressivamente frenético. Acontece que nele, Tarantino reescreve a História. E com que belo final ele a reescreve, não? Ele reescreve as coisas de uma forma ideal, de uma forma como tudo deveria ter acontecido.
A minha característica preferida nos filmes do Tarantino é "aquele" diálogo marcante onde ele coloca dois personagens frente a frente e um deles acaba se vendo sem saída, obrigado a se submeter ao poder do outro. Em Bastardos Inglórios vemos isso desde a primeira cena. O coronel Hans Landa deixa poucas alternativas às pessoas que interroga. É o personagem mais cruel do filme, ao mesmo tempo que é o mais educado, cortez e requintado, o que acentua o seu caráter maligno.Por fim, temos Brad Pitt em uma atuação bem "caricata", divertida e injustiçada. Não, ele não tinha a menor chance contra Jeff Bridges ou Morgan Freeman, mas sem dúvidas merecia uma indicação para melhor ator. Putz, o que é aquele sotaque? Entre os atores "bonitões" que fazem muitos filmes, certamente Brad Pitt é um dos poucos que merecem respeito e isso não é de hoje.
O fato é: Quentin Tarantino é o cara!